Antigos senhores, atuais executivos e de lá para cá nada mudou

Estamos vivendo um retrocesso que há anos causa conflitos desenfreados. O sistema opressor, capitalista e cruel, o que nada mais é do que uma forma escravagista velada, que diante a tantas leis celetistas e estatutárias constitucionalizadas, ainda se dá “um jeito de punir” aqueles que são considerados insurgentes, castigando-os e tratando-os como criados de um Senhor de Posse. A posição se semelha às práticas que secularmente foram utilizadas nas grandes propriedades privadas, principalmente quando os cativos se posicionavam contra o tratamento precário e bárbaro oferecido como recompensa aos seus serviços. Se revoltar contra a casa grande é ter a certeza que de chibatada cortará a carne, simplesmente por reivindicar direitos.

A ousadia que os servidores públicos municipais de Piracicaba tiveram, a coragem e determinação necessária para clamar pelo justo, por respeito e pela dignidade, ascendeu a cólera na supereminência. É de sorte, que nos tempos que hoje vivemos, a represália é apenas na folha de pagamento, pois, troncos, açoites e fivelas seriam pouco para ensinar “como faz”, afrontar o “Senhor de Engenho” é assinar a “sentença de morte”.

Em outras palavras...trabalhem como burros de carga, se contentem em viver em condições degradantes e não reclamem, pois temos meios punitivos e severos tão eficientes quanto máscaras de flandres.

Assim se evidenciam a precariedade das políticas públicas na atual gestão executiva, sufocando o setor de segurança e da administração, sucateando o setor da área saúde e fazendo com que se desdobrarem para atender a população que está morrendo à mingua, mas, isso não interessa e nem faz diferença a quem tem atendimento particular...se virem como podem, deem aos aflitos ervas nativas, façam emplastos e torniquetes, coloquem para repousarem em esteiras...e não durmam, trabalhem até a exaustão. Trabalhem, pois, se faltarem funcionários terão que suprir o desfalque.

O mesmo se estende aos servidores da educação, é, esses mesmos que “pouco trabalharam” na pandemia para reivindicarem tal reajuste. Pão e água seriam suficiente às amas de leite, ou escravos tigres (função que obrigava os escravos rebeldes a transportar dejeto humano até as margens dos rios para esvaziar as latrinas das mansões e durante o trajeto, ao se ter contato com os resíduos manchavam-se a pele). Pois é, é assim que a sociedade mediocrata e os Senhores de Engenho definem a classe docente, degradando com descaso e desprezo todo o sistema educacional.

Fechando com chave de ouro e com grande estilo no reduto político ditador, temos nossos feitores, servidores que são condicionados a prestarem serviços voltados para perseguição e desumanização dos colegas de trabalho, diante das mesmas condições deploráveis de salários defasados, se satisfazendo com migalhas que caem da mesa da Casa Grande.   

E diante de tantos percalços em busca do justo, praticamente uma súplica implorando por reposição dos dias de greve e reajuste, sim, reajuste e não aumento, compreendemos claramente o quão distante a burguesia está dos servidores ou mais especificamente os escravos alforriados. Se o próprio Supremo Tribunal Federal reconhece que os funcionários prestadores do serviço público também possuem o direito de greve, possibilitando a reposição da sua atividade funcional, por que romper barreiras constitucionais prejudicando seus súditos? Quantas ofensas, quantos ataques, uma mistura de poder abusivo e autoritário, tendenciado à tirania onde não se respeita o Estado Democrático de Direito muito menos o poder que emanada do povo.

Com todo esse cenário, colonial, imperial e republicano atribuído pela ausência de compromisso e intolerância da gestão municipal, que enfatiza a representação da mais pura mistura antagônica em relação ao princípio à proteção da dignidade da pessoa humana. Talvez, se ao longo do protagonismo da paralização, os servidores ficassem em seus postos de trabalhos, ganhando o que lhes ofertam e não reivindicando o que é por direito previsto na Carta Constitucional, quem sabe, teriam deixado de perceber a capacidade que o poder executivo tem em remeter atrocidades perante seus vassalos.

 Todo este contexto apenas mostrou com nitidez, a imensa fúria gerada frente à futilidade dos Senhores perante sua escravaria, que não emudeceram e nem perderam o brilho, trabalhando por vezes desiludidos com tal cenário político escravocrata, mas que jamais abaixaram ou abaixarão a cabeça e nem fugirão dessa incessante luta. 

Edmeia Santos – Servidora Pública, Defensora dos Direitos Humanos e Promotora Legal Popular em combate à violência  



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