1º de Maio se foi...

Em matéria do dia 1º de maio, publicado pelo Jornal de Piracicaba, sobre o Dia do Trabalhador, o prefeito Luciano Almeida afirmou categoricamente “o trabalhador piracicabano tem muito a comemorar hoje”. Menos os trabalhadores do funcionalismo público. A data 1º de maio é referente a uma greve geral de 1886 em Chicago, convocado no maior centro industrial dos Estados Unidos, onde os trabalhadores reivindicaram melhores condições de trabalho por conta dos abusos dos patrões como trabalho a mais de 14 horas diárias, condições precárias e insalubres, fora toda forma de exploração contra crianças e mulheres. De acordo com Antonio Frederico Werner, em seu artigo Passado e Presente do Dia 1º de Maio a respeito da imprensa conservadora da época: “O State Registrer de Illinois expressava que a luta pelas oito horas ‘é uma das maiores estupidez que haviam sido propostas quanto à questão trabalhista’ e, para o New York Times, ‘as greves pelo cumprimento da jornada de oito horas podem paralisar a indústria, desaquecer o comércio e atrasar a prosperidade da nação.’ Ainda mais longe iria o Tribune, ao opinar que ‘a redução da jornada de trabalho irá significar que os trabalhadores terão mais tempo para dedicar à bebida’ e ‘se querem menos horas, terão que ser mais eficientes para produzir o mesmo tanto que agora’. Algumas considerações são necessárias. O trecho acima ainda expressa discursos conservadores como “nossas crianças serão prejudicadas com a greve” ou “o atendimento nas unidades de saúde fora   afetado pela ação dos grevistas”, ou “palhaçada para a votação de um projeto de lei”. Todo este recurso discursivo, mentalidade neoliberal e burguesa que tolhe os direitos trabalhistas, ameaça o funcionamento e todas as conquistas do aparelho público. Desde março de 2022, os trabalhadores do serviço público têm sido descaradamente humilhados e desvalorizados pelo atual gestor público, onde não há diálogo frente a demanda da reposição inflacionária. Trabalhadores que perderam entes queridos no exercício da função, trabalhadores que tiveram que se reajustar nas suas rotinas, para atendimento em home office, trabalhadores que se expuseram ao vírus sem terem os devidos EPIs ou ao mesmo terem sido imunizados, trabalhadores que sofrem todo tipo de demanda e ofensa para atendimento da população, muitas vezes com recursos próprios, pois faltam insumos da administração. Estes mesmos trabalhadores deflagraram a greve, para reivindicar direitos silenciados, por uma Lei complementar 173/2020 pelo Governo Federal (LC 173) desde 28/05/2020. O que a faz administração atual? Judicializar a questão e silenciar novamente os direitos dos trabalhadores. Cômico e digno de teatro romano, o posicionamento da administração, pois o dia 1º de maio era para ser comemorado na conquista dos direitos. Como bem expressa Felipe Maia, professor de ciências sociais da UFJF, comentando o historiador Pierre Rosanvallon sobre abuso de soberania popular, “assim, uma vez escolhido, o chefe concentra em si a ‘vontade geral’, da qual se tornaria o único intérprete e responsável. O mandado do chefe do poder executivo tem força incontrastável e conforma os limites de um espaço político no qual não se reconhece a legitimidade de outros representantes, por exemplo, partidos políticos ou outros órgãos”. Logo, ainda persiste ideias conservadoras burguesas e escravocratas, não condizente com a realidade atual, onde até greve é tida como abusiva, sendo que há diversos “silêncios” no ambiente do funcionalismo público.

Walter Leandro Guarda

Servidor público e estudante de História - UNISA



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